
Ontem foi dia de Fórum Pensar Infância que aconteceu na programação do Festival Internacional de Cinema Infantil, onde a convite de Carolina Sanches, discutimos narrativas para/sobre/com as infâncias no audiovisual, no painel: Cinema e o imaginário infantil: quais histórias vamos contar?
Pergunta que confessamos todas, não temos respostas, e sim mais perguntas! Mas longe de sermos perdidas - afinal, somados temos mais de 20 projetos audiovisuais infantojuvenis no mundo -, temos pistas que compartilho com vocês.
Alice Gomes, em um estudo de caso de sua experiência na adaptação do Marcelo, Marmelo, Martelo para audiovisual (disponível na @paramountplusbr), nos apresentou como o "mundo da imaginação" - o tal do “e se…" -, foi o caminho que seguiu em seu processo criativo, resultando em uma série onde as crianças podem se ver como o que são: as maiores criadoras de utopia.
Ana Pacheco, dialogando sua experiência múltipla - da maternagem à criação de mundos, inclusive A magia de Aruna, comigo <3 -, trouxe referências super importantes como Rufino e Simas (2019) que nos provocam o pensamento sobre a dimensão espiritual das infâncias, e como é importante preservá-las através das histórias.
E eu falei sobre a importância de termos políticas públicas de fomento ao audiovisual para/sobre/com crianças, como ampliação da lei 13.006/14 (que institui que o audiovisual nacional deve ser componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola), o que não apenas fortalece o diálogo entre educação e cinema, mas tem potencial para impactar toda cadeia produtiva do audiovisual - são 180 mil escolas do país versus pouco mais de 3.300 salas de cinema; não é uma conta difícil.
Temos, em poucas linhas (ou +/-50 minutos, para quem esteve lá conosco 🙂), pistas aí sobre a importância de, ao contar histórias, cuidar da dimensão do sonho, mas também da autonomia e reconhecimento da criança como ser humano integral, biopsicossocial. Mas que essas histórias só são possíveis se circularem de fato e se os autores delas tiverem subsídios para trabalhar com essa responsabilidade do tamanho do mundo, que é narrar infâncias. E mais: a diversidade de histórias é a diversidade de possibilidades que constroem imaginários onde as crianças (e não um tipo de criança, ser humano) são possíveis.
Ao fim, provocadas em pensar histórias que tragam soluções pras infâncias contemporâneas, que são assombradas pela necroinfância (leiam Renato Noguera sobre), ecoansiedade e outras mazelas, tensionei o que tensiono sempre: a forma dessas histórias.
As estruturas narrativas que seguimos hoje são reproduções do 'começo-meio-fim', dos três atos, da jornada do herói... E sabemos que elas restabelecem status quo, por definição, reitera (o perigo das) histórias únicas e não dá conta de cosmovisões de terreiro, de quilombo, originárias, orientais… de 'começo-meio-começo', espiralares, de mil e uma noites, rizomática, etc.

Tecnologias ancestrais que dialogam muito mais com essa geração alfa (arrasou na aula Carolina Sanches), sem linearidade, on demand, produtoras/consumidoras e gamer. Olha aí, as próprias crianças dando pista pra gente!
Obrigada Carolina, Carla Esmeralda e Carla Camurati pelo convite, e parceiras, Ana e Alice, pela partilha sempre generosa e inspiradora.
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