“se deus me chamar não vou” (Ed. Nós, 2019) de Mariana Salomão Carrara, nos insere na ponta dos dedos de Maria Carmem, uma jovem escritora ‘que só tem tamanho’ apesar dos 11 anos, que narra a própria história. Ela acha que ser escritora é um futuro, a gente sabe - como sua professora - que é presente.
Maria Carmem nos apresenta sua solidão em metáforas tão simples quanto fortes, onde o quebradiço do grafite do interior de um lápis íntegro, simboliza o que é sentir-se não quista, ocupando o não lugar que uma menina adolescente, gorda e grande na violência do hegemônico espaço escolar. A solidão de Maria Carmem é uma expressão de sua complexidade de ser uno, que transborda pelo “vaso que quebra pelo excesso de flores” que é sua família
A atmosfera poética forjada lindamente por Mariana Salomão Carrara - que namora com o imaginário infantil de Cecília Meirelles, construído em sua obra a partir de sua própria vida solitária -, perdura mesmo após a leitura e, é possível sentir que algo de sutil, porém profundo, se transforma.
A visão de mundo adultocêntrico nega às crianças o exercício de sua plenitude, as fazendo acreditar que elas são ‘um vir a ser’, ao invés de um ser completo e complexo no presente. Quantas vezes você já perguntou para uma criança próxima a você o que ela será quando crescer? e quantas vezes você mesmo ouviu essa pergunta em sua infância? Será que não está aí a natureza da ansiedade, frustração, solidão...
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O livro de Mariana Salomão Carrara tensiona a infância como construto social de um jeito profundo mas bem humorado e fica impossível não traçar paralelos no Cinema com “Matilda”, “Pequena Miss Sunshine”, “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” e outros. Quem sabe o desejo de Maria Carmem não se cumpre e “se deus me chamar não vou” ganha as telas (jogando aqui pro universo, esperando que alguma diretorA e/ou roteiristA brasileirA faça adaptação, vai que @carolinefioratti e @ana_pache me lêem)???? “se deus me chamar não vou” é vencedor do Concurso Literário Paratodxs, da @editoranosbr .
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